"A boca fala do que o coração está cheio."

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Falta



No caminho de volta ao lar, ela viu aqueles riscos amarelados, no céu azul. E alguma coisa naquelela aquarela celestial, despertou uma dor já conhecida, e, talvez por isso mesmo, já confortável. Ela sentiu o calor, não do sol, mas do abraço dele. E os riscos amarelos tranformaram-se em ponte. E a música caiu leve nos ouvidos. E a cidade já não era a mesma.

Ao chegar em casa, teve vontade de sair, de refazer os caminhos por ela e ele já percorridos. Calçou novamente os sapatos, mas ao sair, olhou o relógio da cozinha e viu que por mais que desejasse, o trânsito daquele horário era maior que tudo. Deitou na cama para fingir ouvir música, quando na verdade, a lembrança da voz dele é que estaria entrando pelos seus ouvidos. Sentiu uma saudade doída, daquelas que não sentia desde o dia seguinte ao que ele havia partido. Então as lágrima caíram, como pétalas de um girassol ressecado que não voltará a buscar o sol.

Na cama, entre flores, sons e nuances do céu, ela viu uma estrela -a primeira da noite- sozinha lá em cima. Na sua cabeça, estava sozinha como aquela estrela, pois apesar de estarem sob o mesmo céu, ele não estava por perto. A música, e ao mesmo tempo, o seu pensamento, diziam: "I can't take my mind off you..."

Pensou no dia que estaria por vir e lembrou que ele não estaria com ela ao amanhecer. Ele não estaria aqui, quando aquela nuvem escura resolvesse desabar no meio da noite. Não estaria aqui pra dividir o memso travesseiro. Ele simplesmente não estaria...não estaria...não! "Ele está comigo sim." Apertou o anel no seu dedo, chorou um pouco mais e soube que ele estava bem ali.

Pensou no amor que os uniu, nos momentos que passaram juntos e nos que, com certeza, ainda passariam. A saudade ainda estava com ela, mas dessa vez o amor também estava lá. E ela entendeu que essas duas coisas andariam sempre de mãos dadas, como grandes amigas. Entendeu que jamais viveria sem ele, porque estavam ligados como o entardecer e o amanhecer. Teriam um ao otro, independente de qualquer coisa. Teriam seus beijos intermináveis, suas mãos entrelaçadas, seus abraços firmes e bem encaixados, seus risos bobos e tantas outras coisas que só eles podiam imaginar.

Sentou em frente a janela, sentiu o ar fresco e viu uma segunda estrela, próxima da primogênita da noite. Sorriu suavemente e soube que era ele que havia se aproximado dela. Foi esperar a chegada das 23:00 horas.

_________________

Pela primeira vez, exponho-me tão abertamente nesta página da internet. Essa da história não é outra, senão inteiramente eu. O texto é simplório, mas você, Amor meu, pode me ver entre os espaços e tansformar o que eu digo. Só queria estar perto e poder dizer que te amo muito.

domingo, 24 de agosto de 2008

Memorialismo



22 de janeiro de 1991.



50 anos se passaram desde aquela festa de formatura. Sinto-me tão estranho. Todos os valores têm sido mudados na minha vida desde então. Daqui a dez anos estaremos no século XXI, e lembrando-me dos velhos, tenho uma impressão que tudo foi como um dia ensolarado de verão com os amigos.

Pois, bem. Cá estou, numa casinha que comprei recente, em Copacabana, num fim de tarde e me deparei com umas fotos antigas, que estavam escondidas num caixinha que mal dava pra respirar de tão empoeirada que se achava. Lá não só encontravam-se fotos, mas também convites para festas adolescentes; “vista-se de branco”, dizia um deles, com citações de uma esposa de alguém, talvez de um escritor famoso dos anos 20. Quando se é jovem, encontra inspiração em qualquer um que tem partido. Lembrei-me, da porta que se abria e Nina dizia sempre sorridente; “Venha cá, esqueça de tudo, nunca nos sentimos entediados mesmo, não é meu bem?!”.

E ela estava certa, nunca nos sentíamos entediados, tínhamos tempo demais pra decidirmos a nosso favor; vestíamos nosso melhor, brigávamos, mas, os pensamentos sempre consertavam as situações. Nunca sentíamos frio, ou nos preocupávamos que o tempo chegaria ao fim.


As recordações agora vêm à tona.


Quando fui embora da cidade, parti da estação com uma mochila e um pouco de trepidação.

Alguém disse: “se eu não fosse cuidadoso, não sobraria nada para mim, e nada com o que me importar nos anos 70”. Mas fingi não ter escutado nada, e me acomodei. Enquanto seguia a viajem, sonhei que meus sapatos estavam no ar e eu tinha me descolado da poltrona, parecia que o mundo estava começando a ficar sem gravidade; eu tinha disparado através de uma porta que se fechava. Entretanto, mesmo assim, eu achava que nunca me sentiria entediado. A partir daquele dia, fiquei sempre esperando, que ao olhar para trás, poderia sempre contar com um amigo.

Agora eu sento junto a rostos diferentes, muitas vezes, em quartos alugados e lugares estrangeiros. Todas as pessoas que eu beijava, algumas estão aqui e algumas já se foram.

Nos anos 90, nunca pensei que eu chegaria a ser a criatura que eu pretendia, mas, eu pensava que apesar dos sonhos, você estaria sentado em algum lugar comigo.

domingo, 10 de agosto de 2008

O Rastro de Suor (Parte I)



Saiu da cadeia sem um puto.
A rua passava por ele como se o cortasse em pedaços pequenos que pudessem passar nos espaços das valas de esgoto.
Não tinha pra onde ir e pôs-se a seguir o fio de sujeira que escorria entre as frestas da calçada. Foi parar num buraco imenso, frente a uma construção.
Tudo ali parecia pó e abandono.
Olhou-se num meio espelho rachado que estava pendurado num prego por uma tira de fio dental. A barba estava feita, o cabelo bem penteado e aquela imagem até parecia com os homens comuns que ele encontrou no meio do caminho.
O que era mesmo ser homem?
Fez um apanhado de lembranças juvenis: homem não chora; homem tem que impor respeito; homem tem carne fraca e pode ter quantas mulheres quiser.
Aquilo é ser homem?
Lembrou-se das vezes que chorou escondido quando ninguém ia te visitar. Lembrou que sempre escutava, com mais medo que atenção, as ordens do Tonhão nos horários do banho de sol. Lembrou-se ainda dos momentos que a carne pedia prazer e ele, farejando como um bicho, buscava o companheiro de cela.
-Eu sou homem!
Berrou tanto e tão descontroladamente, que conseguiu fragmentar ainda mas o que restava do espelho.
E o homem ficou espalhado em fragmentos pelo chão.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Do nascimento de "Lokura"




Frio.
Faz um estranho frio neste crepúsculo no verão.
Eu, aconchegada nos meus 39 anos, estou sentada na varanda de um casebre alugado, relembrando cenas de um passado ainda tão quente em mim.

-Amor, vem deitar aqui comigo.
-Estou atrasado, hoje não dá, querida.
-Você nunca passa uma noite inteira comigo. Nunca pude contemplar o seu rosto nas frestas da cortina, sob a luz do amanhecer.
-Pequena, você sabe que eu não posso. Pelo menos por enquanto. Espera só mais alguns meses.
-Você não pode ou não quer?
-Por favor, não me venha com essa. Não tenho tempo pra isso agora.
-"Agora"? Tempo pra nós dois, você nunca tem. Mas tudo, bem, não vamos falar disso. Até porque, você já está vestido, vai abrir a porta, ir pra sua real vidinha e me deixar com lágrimas nos olhos, falando sozinha.
-Você acaba comigo quando fala assim.
-E você acaba comigo quando mostra a realidade.
-Olha, fica com esse cheque, compra um vestido novo, porque vou te levar pra jantar.
-Amanhã?
-Não. Amanhã não. Na semana que vem.
-E quando nos vemos?
-Na semana que vem, oras. Quando eu vier te buscar pro jantar.
-Os nossos encontros têm sido cada vez mais esporádicos.
-Você sabe o motivo. Eu estava me arriscando muito e eu não quero magoar ninguém.
-Ok!
-Te amo muito, minha pequena. Fica bem, tá?
-Vou tentar. Vou tentar.

Eu enganava a mim mesma ou enganava ele?
Ele sempre teve certeza que eu sofria desesperadamente com a sua ausência. Coitado. Nunca soube que isto só aconteceu tempos depois. Muito depois.

-Por que você quis me encontrar aqui?
-Eu sei que você gosta de Frida Kahlo.
-E você acha que me trazer neste vernissage foi um bom presente?
-Eu pensei que você fosse gostar. Qual o problema?
- O problema? Ah, não é nada. Só o fato de que tenho que ficar um pouco afastada de você para que ninguém perceba que somos íntimos demais.
-O que você queria? Que eu te abrçasse, saísse pelo museu e parasse em frente a "Raízes" que é a última obra desta sessão, te beijando na frente de todo mundo, inclusive da minha secretária?
-É isso. Você conseguiu adivinhar. Eu quero você comigo. Quero você sempre. Não uma vez por semana e em encontros disfarçados.
-Fale mais baixo ou alguém pode escutar.
-Não se preocupe. Se alguém ouviu alguma coisa e estiver vindo pra cá, vai pensar que você está falando sozinho, porque eu já vou embora.
-Não. Não vá. Vamos pro carro.
-Nossa. Depois de se preocupar tanto com os centímetros de distância, agora está querendo que eu vá pro seu carro com você?
-Por favor, Ana. Vamos logo, sem mais falações daqui até lá.

-Pronto. Estamos aqui como você quis.
-Eu naõ estava aguenta nossa distância. Admito ter sido uma péssima idéia. Desculpa.
-Essa situação está ficando insustentável.
-Eu precisava sentir sua pele. Tirar seu batom...
-Pára, pára, Miguel. Precisamos conversar.
-Ana, vamos aproveitar.
-Nós temos que aproveitar, porque não sabemos quando vamos nos encontar novamente, não é?
-Não é isso. A gente tem que aproveitar o momento, a vida, o amor que a gente tem.
-Eu não aguento mais.
-Você não aguenta mais me amar?
-Talvez. Eu sei que é lindo acreditar que o amor é maior que tudo, mas faz tempo que não leio contos de fadas. A nossa situação fez do meu amor um poço. Um poço daqueles bem fundos, onde a gente não sabe se lá embaixo é chão firme ou água.
-Espera... não vá!
-É só isso que você tem a dizer?

Não sei como fui me envolver com um homem tão babaca como ele. Nem atitude pra me dar um último beijo, ele teve. Ou pelo menos, naquele dia, eu pensei que pudesse ter sido o último beijo.

-Você trocou a fechadura?
-É, troquei, porque a outra quebrou.
-Achei que tivesse trocado para que eu não pudesse entrar.
-Não.
-Por que você não estava atendendo minhas ligações?
-Eu atendi. Tanto que estou estou te esperando aqui faz meia hora.
-Desculpe o atraso, é que...
-Satisfações são desnecessárias.
-Não faz isso comigo. Essa sua indiferença é terrível. Por que não continuamos juntos? Eu te amo muito, Ana e smpre tive certeza que você não duvidava disso.
-Como podemos ficar juntos? Uma vz por semana? Escondido de todo mundo? Eu não quero essa vida pra mim.
-Eu pedi pra você ter paciência. Já dei entrada nos papéis da separação. Hoje é aniversário do Pedro e ele quer que eu leve ele e a mãe pra fazenda do avô. Se você quiser, quando eu voltar, passo pra te pegar e a gente vai pr'uma casinha que aluguei em Caeté.
-Você está falando a verdade?
-Eu nunca menti pra você. Mas agora preciso ir.
-Eu te amo, Miguel. Durante todos esses anos nunca tive muita certeza disso. Mas no momento, as palavras me fogem e tudo parece pequeno demais para caber minhas sensações.

O melhor beijo da minha vida. A lembrança que jamais esquecerei. A minha maior dor.
Naquele dia, a felicidade era grande, mas o instinto de desconfiança persistia em fazer parte de mim. Então decidi seguir o Miguel. Vi o carro dele parado na porta de casa e minutos depois a mulher, o filho e ele, entravam no carro com as malas. Isso deveria ser suficiente para comprovar que o Miguel não mentira para mim. Mas não foi. Decidi seguir o carro dele e ver onde iam. Depois de duas horas de viagem, vi o carro da família entrar na fazenda Albuquerque. Agora eu estava satisfeita, mas havia um problema: o Miguel não poderia saber que o segui até ali, porque seria falta de confiança da minha parte. Resolvi ligar pra ele e pedir um requeijão fresco, com goiabada, que era vendido numa loja na beira da estrada. Assim eu ganharia tempo pra passar na frente dele.
E o meu plano havia dado certo, porque cheguei em casa a tempo de colocar o carro na garagem e assistir um pouco de televisão. Foi então que senti um aperto no peito. A notícia no jornal anunciava que havia ocorrido um assaltado numa loja em beira de estrada; a mesma loja em que pedi pro Miguel passar. O resultado do assaltado era a morte de duas pessoas, dentre essas, estava Miguel.
Às vezes, me martirizo com as escolhas erradas. Depois de tantos anos, descobri que de fato o amava. De vez em quando, quando a saudade aperta, posso ver o Miguel nos olhos e no sorriso do nosso filho.
Agora, estou confortavelmente feliz nesse fim de tarde vendo meu filho e meu marido chegarem da pescaria no lago que fica aos fundos da casinha que ele alugou em Caeté.
Nota da autora: título e imagem fazem parte do Diário de Frida Kahlo. Como se pode ver na imagem, Frida conta uma estória sobre "Ojo Único" e a belíssima "Neferísis, que se casam num mês calorento e vital. Desse casamento nasce um filho de rosto estranho, chamado "Neferúnico", que mais tarde torna-se fundador da cidade comumente chamada "Lokura".

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Um conto d'um fato (ou um contado, ou seria contato?!)

Ele marcou um encontro com ela.
Cinema (beijos e afagos)-18:00h (meio termo entre a falecida luz e a nascida escuridão).
O relógio marcava 17h 30min e ele já estava lá, com buquê de rosas vermelhas e flores do campo.
Sempre ouvira dizer que as rosas vermelhas eram símbolo de amor, e deveras, era com um buquê igualzinho a este (um pouco ressecado e desleixado) que o seu pai pedia desculpas à esposa e em seguida ia direto para o quarto.
Pôs o perfume do irmão mais velho, gel (mas não muito, caso ela quisesse acariciar-lhe os cabelos), e a sua melhor roupa.
Enquanto pensava no trajeto realizado, olhava mecanicamente o relógio: "17h 55min- ela já deve estar a caminho"
Ele gostava tanto dela! Faria qualquer coisa para que ela deixasse de ser apenas o sonho de todas as noites. Por vezes acordava atordoado, após sonhar que afundava-se no verde dos olhos dela e na boca aveludada. Foi a vontade louca de transformar o sonho em realidade, que o impulsionou a fazer o convite.

18h 05min
Bem, pelo visto ela não era pontual, mas isso lá importava?
Tantas vezes ele já esperou anciosamente pelas aulas de laboratório, onde ela sentava bem a sua frente. Esta era só mais uma espera.
Ele andava de um lado para o outro e olhava a chuva que caia no teto solar do shopping.

Enquanto isso, uma senhora na banca de flores o observava e quase podia sentir a sua angústia. Diversas vezes ela acompanhou rapazotes em situações como esta. Acompanhava a cena como quem assiste o último caítulo de uma novela. Gostava de saber qual destino teriam as rosas que ela mesma colheu: lata de lixo ou diário de garotinhas apaixondas?

18h 3omin
"Deve ser a chuva. Ela está atrasada, mas virá, com certeza."
Repetia paulatinamente para si mesmo.
A sessão das 18:00h já havia começada há tempos, mas eles poderiam pegar a próxima sessão.
De qualquer forma, era mehor esperar.
Outros casais entravam felizes para assistir o filme. Quando seria a sua vez? Quando seria feliz?

Tic-tac.

19h 07min
Custava- lhe encarar isso, mas de fato, ela não veio.
Queria chorar, mas lembrou que "homem não chora".
Como olharia pra ela novamente?
Os seus sonhos transformariam-se em pesadelos.
Jogou as flores na lata de lixo e de repente reparou que a mulher na floricultura o observava. O olhar daquela mulher parecia dizer: "sinto muito". Ele não sabia se aquele pesar dela era pelas flores no lixo ou pela sua espera naufragada.
Foi embora dali.

Na rua, deixou-se molhar pela chuva para que as pessoas confundissem as lágrimas no seu rosto com gotas do céu.
Ao chegar em casa a mãe, angustiada pelo atraso do marido, levou um susto ao ver o filho encharcado. Rapidamente encheu a banheira com água quente para que o filho pudesse se aquecer.

Agora já sem perfume, sem gel, sem buquê de flores, ele sentou no sofá para assistir um pouco de televisão, enquanto a sua mãe mudava nervosamente os canais, tentando fingir paciência.

De repente, o pai entrou em casa, a mãe deu um pulo (contido) do sofá e fingiu-se mais brava do quê preocupada com ele. Nas mãos o pai trazia um buquê de flores e a mãe já não disfarçava a preocupação e o terno amor pelo marido.
Ah...flores!
Espere...aquelas flores murchas estavam acompanhadas de um cartão. Um cartão que dizia: "Eu te amo! E este é o primeiro que vos digo dos milhares que tanto guardei desde sempre"
Este foi o cartão que ele havia escrito para a amada que não o amava, aquele era o buquê que ele havia comprado e horas depois arremessado no lixo. Agora ele entendeu o motivo pelo qual as flores do seu pai sempre eram meio acabadas. Agora ele entendeu que o seu sofrimento era uma vingança dos tantos desamores que serviram para alimentar o amor dos seus pais. Ele era fruto do amor vil.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

ArteFacto




Ana queria sair.
Ana queria causar.
Ana queria vestir.

Vestiu uma saia preta de flrores vermelhas.

Vermelho-bordô.
Vermelho-cádimo.
Vermelho-tourada.
Vermelho-ferida.
Vermelho-coisa mundana.
Vermelho-Ana.

Ana queria mudar.
Ana queria comprar.

Parou numa loja de estatuetas, porque achou que de fato, ali haveria arte para encher os olhos.

Arte.
Arte-mito.
Fato.
Arte-fato.
Artefacto.

Ana escolheu um artefacto e o levou pra casa.
Colocou-o em frente ao espelho e viu que o brilho dos metais preciosos, cravados na saia da mulata-estatueta, refletiam sobre toda a sala e quase ofuscavam a sua vista.
Olhou-se no espelho, e viu que o brilho do seu ser não podia competir com a estátua.
Aproveitou o gesso do trabalho do marido e revestiu-se.
Tronco, membros, cabelo... Quase tudo ficou coberto de gesso. Só as mãos (hábeis trabalhadoras) e os olhos, escaparam da camada de massa.
Como o gesso ainda não havia secado, Ana pôde sorrir um pouco ao ver a estátua a sua frente.
Ah...
Ana-Vencedora.
Naquele duelo de brilho entre estatueta e pré-estátua, Ana venceu, porque o brilho do seu olhar maquiavélico infestou todo o cômodo.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Prainha




Agora, mais uma vez, eu desejei te ter bem aqui ao meu lado.
Ouvir a sua voz (que você jura não servir para o canto) me fazer tão bem quanto me fazem as palavras que eu vejo ao sair de ti e ocuparem uma tela.
Quero o seu abraço virtual satisfazendo o meu desejo real.

Agora, quero sentir aquele nervosismo dos primeiros encontros.
Aquele nervosismo em que a alma se funde em ânsia e alegria. E o coração oscila entre um taquecardia e uma parada.

Feche os olhos...
Ouve o susurro, filho meu...
Escutas?
É o som do vento que me leva pra perto de ti.

Agora você sabe que estarei sempre aqui, ou melhor...sempre estarei aí com você.
Isto é...se houver um lugar pra mim nesta prainha.




segunda-feira, 7 de abril de 2008

23h 15min




Sentada em frente ao espelho, ouvindo uma música que mexe com o íntimo, refaço mentalmente o meu dia. Refaço mentalmente os meus dias.
Sinto que o coração está vazando e então sinto com a ponta dos dedos, o líquido escorrer pelo rosto.

Estou tão bonita!
Esta luz me favorece.
As pessoas me vêem sob outra iluminação.

Por instantes me concentrei no reflexo do céu no espelho a minha frente e vi um avião atravessar as nuvens.
No exato momento em que a música atingiu o seu ápice, uma lágrima que estava congelada finalmente conseguiu cair, e junto com ela a chuva começou a cair lá fora.
O céu que segundos antes era uma fusão de brilhos naturais-artificiais, azul, escuro, nuvens espassadas... Transformou-se num imenso lençol cinza.

Estou quase explodindo de sensações!

Os olhos querem aprisionar as imagens.
O ouvido captura o som do violão e os sussurros do cantor.
O cheiro da chuva invade as narinas.
Passo a língua entre os lábios e sinto gostos.
Com as mãos tateio o rosto e afago os cabelos.
Pronto.
Fiz uso de todos os sentidos (?).

Sinto que as palavras anteriores podem estar mal colocadas, mas não consigo explicar o que se passa entre uma menina, um céu, um espelho e algumas sensações. Perdoe-me se te fiz perder tempo com estes escritos, mas eu precisava dialogar em silêncio.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Caixa de correio



E hoje eu tive vergonha de me ver no espelho.
Abri os olhos, pensei no que se havia passado na noite anterior.
Me arrependi tanto de ter dito aquelas coisas!
Senti raiva por ter feito a declaração perfeita de amor, para a pessoa errada ou no momento errado.
Disse coisas que não cabem mais ser ditas. Coisas que estão bem (mal) aqui só comigo.
A minha única esperança é que as minhas palavras se dispersem no vento e sejam ditas, misturadamente, por essa outra pessoa.
Verdadeiramente, não quero que fique com ela, mas já que escolheu assim, então segure-a pela mão e diga em sons, quase imperceptíveis, o quanta a ama.
Seja lá o que ela disser ou fizer depois disso, quero que lembre de mim.
Quero que me recorde como pessoa, não que as minhas palavras ecoem na sua cabeça.
Quero antes que sinta o calor que exala de mim, quase vitalizando-me ao seu lado.
E quando você estiver quente, eu já não estarei mais contigo. Então olhará para a pessoa que está com você e terás a resposta para a indecisão que julgas sentir.
Escrevo esta carta com remetente e destinatário, mas que nunca chegará.
Esta vai pra junto das tantas outras que escrevi.
Vai ficar na caixinha de música, onde há uma bailarina que gira pra um lado só e onde guardo meus pensamentos igualmente mal-fabricados.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Só ensopada



Hoje olhei pro céu e vi aquelas gotas dançantes.
Ontem, saindo de casa, também as vi, na sua dança costumeira.
E elas tilintavam sobre os carros na avenida, depois deslizavam pelo vidro, obrigando-me a brincar daquilo que chamo de "corrida de gotas".

No banco de trás, desenho com a ponta do dedo, corações na janela. Em seguida escrevo meu nome e...somente meu nome.
Ali na janela não há mais espaço para nome algum.
Aqui no meu coração não há mais espaço.

(suspiro)

Acomodo-me melhor, no banco, mas vejo que falta pouco pra terminar o meu percurso. Logo, logo vou ter que sair dessa redoma confortável. E é quase sempre assim. Quando estou aconchegada n'algum corpo, vejo que tenho que ir embora.

Abandonando o 'ontem', volto a narrar o 'hoje' que daqui há algumas horas será também o 'ontem'.

Hoje-quase-ontem, sentei numa cadeira sob o céu.
E o céu é tão lindo no interior da cidade! Os céus são tão lindos nos interiores humanos!

Uma
g
o
t
a

Outras mais.

Ainda bem que estou embaixo de uma árvore. Ela me protege.
Mas...
Protege?
Do quê?
Me protege da água?
Vou me entregar à dança líquida.

Sinto frio, mas ele é menor do que aquela baixa temperatura em que está inserido o meu coração.
Mesmo estando ensopada, esse vento frio não me faz nem cócegas.

De repente sinto um arrepio e começo a sentir falta daqueles arrepios que ele me causava.
Acho que chegou o momento de entrar em casa e me secar.
Acho que chegou o momento de dissecar aquelas lembranças.

sábado, 8 de março de 2008

Uma nova forma de morrer




Ana molhava os pés no mar e banhava a alma de sensações.
Há tempos ela já havia o deixado.
Há tempos ela tentava ser mais alegre.
Hoje ela lembrava daquele último diálogo.
"Faz dois meses que me transformei numa pessoa que já foi feliz."
E as lágrimas chegavam na pálpebra inferior, mas Ana não permitia que elas invadissem o seu território facial, tão levemente maquiado.
E o coração doia.
E o orgulho estava ferido.
E o pé doia, porque uma búzio-presente do mar- o havia ferido.
Ana sentou ali mesmo, na beirada da praia, molhando seu vestido sem cor e viu o sangue escorrer pelo pé. Ela chegou a conclusão de que a dor sempre vencia. Não podendo esvair-se pelos olhos, o corpo encontrou outra maneira para liberar a sua sensação de desprazer.
Ah...!
As palavras dele: "minha pequena".
Ana sentiu-se minúscula por estar pensando aquilo. Tão pequena, que desejou que ele a abraçasse e a protegesse.
"Não. Basta!"
Decidiu dar [a]deus a sua vida.
Foi caminhando pela praia com um só pensamento na cabeça.

Ao chegar em casa ela pôs aquele vestido velho, que só usava em ocasiões especiais. Aquele vestido vermelho e em excelente estado. Penteou-se muito bem e colocou a corrente no pescoço.
Pronto!
Estava pronta pra abandonar a vida.
Naquele exato momento o interfone tocou e ela viu o carro parado lá embaixo.
Olhou-se mais uma vez no espelho e saiu com aquele homem que há tanto tempo a convidava pra jantar.
E ela finalmente conseguiu morrer.
Despediu-se da vida, luxuosamente.
Ana foi. Com a corrente no pescoço.
Morreu sufocada com a jóia de família.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Me surpre[end]e


-Promete nunca me deixar?
-Prometo. Quero poder traçar meu horizonte pelos teus olhos, sempre.
Mas o sempre chegou ao fim.
-Você me vê olhando pra frente e pensa que sou uma pobre mulher abandonada, que não tem olhos-mapa-de-horizonte. Acha que estou sozinha agora? Engano seu. Ele cumpriu a sua promessa.
Ela põe as mãos na barriga, fecha os olhos e sente, com a mesma calma daqueles residentes do Olimpo, que guarda dentro de si a prova vital do amor que já se foi.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Junto à janela



Escuro. Sozinha. Frio. Amargura. Preto. Fim.
Todas aquelas palavras soavam na sua sonza cabeça, agora.
Estava num quarto escuro chorando triste e enraivecida por dar-se ao luxo de sentir saudade.
Cada lágrima tinha aquele gosto ruim que ela já conhecia há muito tempo.
Queria esvair-se como as lágrimas.
Queria ser líquido amargo.
Queria não ter gosto de tristeza.
Queria apenas poder ser algo, porque agora ela simplesmente sentiu que não existia.
Abraçou-se e viu que estava gelada. Um frio lhe percorreu o corpo e só então lembrou que naquele quarto havia uma janela aberta. Correu desesperadamente para tentar conter aquele vento que atrapalhava seus pensamentos ridículos.
Ao chegar à janela, olhou o mundo que sua vista podia alcançar. As visões eram tão interessantes que ela resolveu puxar uma cadeira e sentar-se diante daquele espetáculo.

Uma família jantava no apartamento em frente. Pai e mãe ainda eram jovens e a filha tinha uma beleza angelical. Tudo estava harmoniosamente bem até que o celular do homem tocou e ele abandonou mulher e filha sozinhas para ir à um compromisso de trabalho. A menina chorava por não poder jantar com o pai. A mãe chorava por sentir que estava perdendo o marido.

A observadora imaginava a cena dessa forma. Ela não tinha certeza, mas alguma coisa dizia que estava certa.
Abandonou a ex-família-feliz e deteve-se em olhar um velho homem sozinho no banco da praça a poucos metros de distância.

Ele parecia cantarolar, mas ela não conseguia entender qual era a canção. O homem tirou do bolso da jaqueta pedaços velhos de pão e pôs-se a dar aos cães que lhe seguiam. Quando o pão acabou os cachorros ainda continuaram ali e o velho olhou para o céu e soltou uma frase que soava clara nos ouvidos da observadora: "estou aqui, como sempre prometi estar,Helena. Por que você está tão longe de mim,agora?" E uma lágrima rolou por aquele rosto cansado.

Uma chuva fina e insistente começou a cair e a observadora olhou para o lugar de onde vinha a chuva e chegou a pensar que aquelas gotas eram a soma de todas as lágrimas que caiam nesse instante. Precisava fechar a janela, porque a chuva invadia seu território e estava quase apagando a única coisa quente ali: uma vela. Deu uma última olhada nos personagens das suas observações.

A moça vestia uma roupa quente na filha e corria pra secar o marido que acabara de chegar.
O velho colocou um chapéu na cabeça, entrou na padaria para tomar um café quente e esperar a chuva passar.

Agora sim ela podia fechar a janela.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Constatação necessária



Hoje é só mais um dia dentre os que já vivi ao longo destes quase-dezoito-anos.
Tenho pensado tanto em você!
Tenho pensado tanto em nós dois!
Tenho tentado não pensar nela.
Já não suporto mais ficar lamentando essa realidade.
Como naquele filme, gostaria de apagar a parte da minha memória que está reservada à você.
Chega de degustar a dor! Agora vou colocar um prisma em cima da mesa e encontrar um pote de ouro no final do meu arco-íris.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Si-lên-cio


-Então é isso, não é?
-Então o quê?
-Acabou.
-O quê acabou?
-Não é possível, você está se fazendo de boba até num momento sério como esse.
-Eu não estou me fazendo de boba. Fiz uma pergunta simples, porque estou confusa.
-Pois muito bem, se você quer saber o que acabou, eu digo: o nosso relacionamento, o meu amor por você.
-Acabou? Por que?
-A resposta você mesma já deu. Acabou porque você é confusa demais e o meu amor precisa de segurança e não de imprecisão.
-Nunca pensei que o amor precisasse de racionalidade pra se sustentar. Pelo menos o meu amor transcende a razão.

Silêncio.

-Ainda te amo.
-Eu sei.
-É só isso que tem a dizer?
-Não.
-Então diz, porque estou aqui, como sempre estive, ouvindo.
-Sinto muito, mas o que tenho a dizer não lhe agrada.
-Ainda assim quero ouvir.
-Você sabe que sempre te amei muito. Larguei toda minha vida pra arriscar uma vida nova com você. Me joguei sem medo nos teus braços e de tudo que o mundo podia oferecer me bastava seu sorriso. O nosso amor me consumiu, mas agora ele sumiu. Quero voltar pra minha antiga vida, onde eu dormia enlaçado pela segurança e embalado pela estabilidade. Pra mim chega de confusão. Chega de você.
-Acabou?
-Sim.

Silêncio

-Você não vai dizer nada?
-Não.
-Como não? Eu digo que o nosso relacionamento acabou e a única coisa que você vai fazer é ficar calada?
-É.
-Não acredito. Por que,hein?
-Porque tudo que eu disser será inútil. A única coisa que eu desejo é o seu amor, mas isso eu já não tenho mais, então prefiro o silêncio pra me acostumar com o vazio da minha alma.

Mais uma vez o silêncio tomou conta do ambiente, mas não como outrora. O silêncio agora era consequência do beijo dos amantes.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

[A]gosto


O dia está cinza e eu tomei uma decisão: quero te ver.
Mesmo que eu não possa sentir a sua língua cálida, flamejar meus poros gustativos;
Mesmo que eu não possa ter as suas mãos descobrindo meu rosto;
Mesmo que eu não tenha mais o direito de reter o seu perfume na minha memória;
Ainda assim eu quero te ver, porque agora é agosto.
Espere...
Não é agosto?
Não é a gosto?
Então não quero te ver.
Suma daqui com estes teus beijos tóxicos, com estas mãos ásperas e com este cheiro fétido de quem já se foi há muito tempo.
Suma da minha vida e me deixe sozinha com minhas lembranças-restos-(i)mortais.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Porque hoje é 24


Quero sair por aí.
Botar o pé em alguma estrada e me jogar pra onde os meus pensamentos me levem.
Quero ir ao nada, rumo ao horizonte.
Horizonte meu? Horizonte seu? De quem?
Apenas horizonte.

Estou bem hoje, porque ontem joguei o meu amor no liquidificador, misturei com montes de sentimentos e pitadas de insanidade.
Transformei aquilo que eu guardei por tanto tempo, tão cuidadosamente, em uma miscelânia de desprazeres.
Tudo virou líquido que eu bebi numa verocidade assustadora.
Voltou pra mim aquilo que inicialmente pensei jogar fora, mas não da mesma forma que antes.
Agora não sei o que pode acontecer.
Será que vai me fazer mal?
Acho que já enfrentei venenos piores.
Será que vai doer?
Pra mim tanto faz, porque já me acostumei com esse tipo de menifestação do meu corpo.

Movimento meus pés e vou em direção ao fim.

Mas...que fim?
Fim de quê?

domingo, 20 de janeiro de 2008

Aquela palavra

Ela pensou: "que engraçado!"
Ela sempre gostou das palavras e sabia que elas tinham grandes poderes.
Estando feliz ou depressiva era nas palavras que ela se refugiava.
As palavras eram suas melhores amigas.
Elas é que davam tempero à sua vidinha tão monótona.
Ela nunca imaginou que pudesse ser apunhalada por uma palavra.
Era só uma palavra. Nove letras. Quatro sílabas.
Ela chorou copiosa e verdadeiramente.
Chorou por causa da dor que sentia ocasionada pela palavra e chorou pela traição da palavra em si.
Mais uma vez ela recorreu às palavras para tentar amenizar seu sofrimento.
Mais uma vez as palavras se portaram como suas amigas e secaram suas lágrimas.
No final das contas, ela já nem lembrava da traição e riu na cara da palavra maldita.
Palavra, na verdade, nem tão maldita assim.
Unf... na-mo-ran-do.
Ela soletrou e achou engraçado.

sábado, 19 de janeiro de 2008

Ela pergunta, Ela responde

Perguntas

1) Por que?
2) Por que eu tenho que ficar assim?
3) Por que meus pensamentos não obedecem ao meu comando?
4) Por que estou sem você?
5) Por que sinto tanto a sua falta?
6) Por que algumas pessoas conseguem ser tão marcantes?
7) Por que você foi embora, mas ainda continua em mim?
8) Por que isso machuca?

Respostas

1) Porque tinha que ser assim
2) Porque eu quero. Porque gosto de estar inserida nesta situação.
3) Obedecem sim, mas eu nem sei o que quero de verdade.
4) Porque você quis que assim fosse.
5) Porque me arrependi de ter te deixado ir embora.
6) Porque um dia (talvez ainda hoje) eu as amei muito.
7) Porque eu não quero que você vá embora.
8) Porque é amor.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Impróprio

O carro percorre os exatos 70 km.
O céu ganha, aos poucos, um tom de amarelo-dourado.
O sol se põe.
E eu?
Eu lembro de você.
Está tocando alguma música, mas eu não consigo me fixar na letra, porque meus pensamentos e sentidos são (so)mente seus; ou melhor...são nossos!
O vento me refresca o corpo , leva o meu cabelo pra alguma direção que desconheço, fecha os meus olhos e me traz o seu cheiro.
Cheiro que eu verdadeiramente, nunca senti em você, mas eu sei que é seu. E sei também que um dia vou sentir, não só o perfume, mas vou te sentir por completo bem aqui.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Calabouço domiciliar


Ela estava cansada. Sua vontade era de comer e cair sobre as páginas do livro até o sono chegar. Mas não podia fazer isso. Não hoje, porque seus amigos haviam acabado de chegar de viagem e marcaram uma saida. Ela estava morrendo de saudade deles e a falta que eles faziam, era maior que o seu cansaço.
Abriu o guarda-roupa e escolheu uma roupa que lhe fazia muito bem. Olhou-se no espelho e sentiu-se satisfeita com o que via refletido ali. Um barulhinho nas suas costas, anunciava que havia recebido uma nova mensagem instantânea. Era ele! Queria vê-la e estaria no mesmo lugar onde ela estaria com os amigos. Mais do que no instante anterior, ela sentia-se es-plên-di-da. Nada poderia estragar aquela noite!
Uma das suas músicas favoritas tocava no volume máximo e ela olhou o relógio. Minha nossa... já estava atrasada!
Pegou sua bolsa e desceu a escada correndo, com um sorriso no rosto e uma música na cabeça.
Olhou para a porta e não viu as chaves. Onde elas estavam?
Procurou no sofá, na mesinha, na estante e em toda a sala.
Procurou na mesa, no balcão, em cima da geladeira e em toda a cozinha.
Procurou no guarda roupa, na cama, na prateleira, na cômoda, na mesinha e em todo o quarto.
Procurou, procurou, até que o sorriso se desfez e a música já não ecoava nos seus ouvidos.
Não encontrou as chaves.
Não pôde sair.
Não viu os amigos.
Não o viu.
Ela quis chorar e ela chorou.
Ela quis chocolate e ela comeu.
Ela quis ouvir músicas tristes e ela ouviu.
Ela queria encontrar as chaves e não conseguiu.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O nosso amor a gente é quem sabe

Você não consegue entender, porque não me olha com os olhos do coração e não vê a ferida que ainda está aberta em mim. Você pergunta se eu te entendo e eu, no auge da minha compreenssão, digo que entendo sim e não peço, mas desejo, profundamente, o seu entendimento, o seu apoio, algumas boas palavras. Me entristeço, mas não por muito tempo, porque sei que não tínhamos futuro. Nunca tivemos. Como você mesmo disse: vivemos em mundos diferentes! Estou à mil anos-luz de ti e ao mesmo tempo, em desejo, posso sentir nossa proximidade. Eu me importo com o fim, mas é necessário que o haja pra eu ter a chance de recomeçar. Me despeço das conversas animadoras, das noites na praça, do nervosismo das 19:30, dos seus carinhos, do seu cheiro forte, das minhas mãos delicadas nas suas, dos teus beijos e de tudo aquilo que não significou nada pra você. Você me procura e diz que o nosso caso tem solução, mas como eu posso permanecer ao lado de um cego de coração? Só queria que enchergasse e curasse as minhas feridas.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

cê-a-êmi-i-éli-a

Talvez, se eu quisesse, poderia escrever os versos mais bonitos e emocionantes pra você. Poderia encher a página com declarações calorosas e dizer, em variadas formas, o quanto te amo, mas...eu não quero fazer isso! A única coisa que eu desejaria é me transpor nestas palavras para penetrar, em forma de luz, nos teus olhos; me encaminhar para sua mente e...apenas ficar ali.
Ficar ?
Ficar aqui, comigo?
Ficar ?
Ficar assim?
FiCar
a
m
i
l
a

sábado, 5 de janeiro de 2008

Hunf...!

Sábado, 5 de dezembro de 2008

Mais uma manhã sem surpresas.
Dormi pessimamente e, por incrível que pareça, acordei de bom humor.
Já estava acostumada com o meu outro humor, então as coisas parecem meio estranhas nesse espírito "novo".
Será que essa coisa boa saiu de dentro de mim?
Como é possível?
Ainda na madrugada de hoje, fui dormir com o rosto "plastificado" de lágrimas e pensamentos ruins na cabeça.
Ah...já sei!
Foram as estrelas.
(só pode ter sido isso)
Antes que meus olhos se fechassem por um longo tempo, eu adimirei as estrelas emolduradas na janela do meu quarto.
Eram tão lindas!
A noite estava escura (assim como a minha vida), mas o brilho das estrelas superava a escuridão.
Naquele momento eu desejei ser uma estrela, porque queria ser superior ao escuro da vida.
Pronto!
Acho que a razão para eu estar bem, foram os meus devaneios da madrugada.
Ai, ai!
Acho que preciso "utopiar" mais vezes ao olhar pra cima.
Acho que preciso de uma continuação dessa minha fase "happy"!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Mais uma desilusão (pra minha coleção)

Como eu posso sentir saudade de algo que nunca existiu?
A irrealidade faz falta e dói.
Dói pensar no que viveríamos.
Dói não saber o que vai acontecer daqui pra frente.
Dói muito pensar em você, em tudo que não vivemos e principalmente, em tudo que vivemos.
Resumindo...
Você faz doer bem aqui, dentro do peito, ou melhor, no cérebro, já que o coração não sente nada.
Por que você me fez acreditar em 'juntos pra sempre'?
Por que me fez zcreditar em 'te amo'?
Eu estava quase bem no meu canto, sem acreditar em amores imperecíveis.Estava bem com os meus rabiscos de estrelas, flores e corações.
Você apagou tudo.E agora? Como vou desenhar tudo novamente se não tenho mais a mesma mente livre de antes?
Eu ia dizer que precisava de você pra ficar tudo bem, mas acho que na verdade, preciso é de uma ocupação.


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Você vai continuar aqui intacto.

Na minha vida

Na minha cabeça confusa
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Imperecível#Luxúria (vício musical dos últimos tempos)

Tudo pode parecer um caos,pois quando ando sem destino...

Primeiro post do ano.
Quantos mais virão?
Estou tão triste e nem sei o por quê de estar chorando tanto.
O ano começou há 4 dias e há 4 dias eu reflito e choro.
Cadê aquela 'velha' esperança de começo de ano, que eu tinha sempre?
Cadê a idéia de acreditar que tudo vai ser melhor neste ano que está chegando?
'Está chegando', não...já chegou!
Mas enfim...
Já não tenho aquele 'brilho nos olhos' de outrora.
Meus abraços já não aquecem quem eu gostaria de aquecer.
Minhas palavras não acalentam a mais ninguém. Nem a mim mesma.
Isso é ruim?
Talvez sim, talvez não.
Isso é mudança, transformação, então ainda não posso dizer se é bom.
Mas por enquanto, o que conheço dessa 'novidade' não me deixa muito feliz.
*rezando para que as coisas mudem*

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Hoje eu perdi o sentido
Já não penso em mais nada
Além de anestesiar
A minha solidão
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Pés no chão#Luxúria