"A boca fala do que o coração está cheio."

segunda-feira, 28 de abril de 2008

ArteFacto




Ana queria sair.
Ana queria causar.
Ana queria vestir.

Vestiu uma saia preta de flrores vermelhas.

Vermelho-bordô.
Vermelho-cádimo.
Vermelho-tourada.
Vermelho-ferida.
Vermelho-coisa mundana.
Vermelho-Ana.

Ana queria mudar.
Ana queria comprar.

Parou numa loja de estatuetas, porque achou que de fato, ali haveria arte para encher os olhos.

Arte.
Arte-mito.
Fato.
Arte-fato.
Artefacto.

Ana escolheu um artefacto e o levou pra casa.
Colocou-o em frente ao espelho e viu que o brilho dos metais preciosos, cravados na saia da mulata-estatueta, refletiam sobre toda a sala e quase ofuscavam a sua vista.
Olhou-se no espelho, e viu que o brilho do seu ser não podia competir com a estátua.
Aproveitou o gesso do trabalho do marido e revestiu-se.
Tronco, membros, cabelo... Quase tudo ficou coberto de gesso. Só as mãos (hábeis trabalhadoras) e os olhos, escaparam da camada de massa.
Como o gesso ainda não havia secado, Ana pôde sorrir um pouco ao ver a estátua a sua frente.
Ah...
Ana-Vencedora.
Naquele duelo de brilho entre estatueta e pré-estátua, Ana venceu, porque o brilho do seu olhar maquiavélico infestou todo o cômodo.

2 comentários:

Juliana Campos disse...

Ana não precisava de uma estátua para se sentir uma vencedora, porque o seu duelo era onde a estátua não podia alcançar: dentro de si mesma!

Willian disse...

Aquilo que elas buscava não mto longde um espelho alcançaria...só queria um motivo para se sentir vencedora.....


Bjinhoss.....