"A boca fala do que o coração está cheio."

domingo, 10 de agosto de 2008

O Rastro de Suor (Parte I)



Saiu da cadeia sem um puto.
A rua passava por ele como se o cortasse em pedaços pequenos que pudessem passar nos espaços das valas de esgoto.
Não tinha pra onde ir e pôs-se a seguir o fio de sujeira que escorria entre as frestas da calçada. Foi parar num buraco imenso, frente a uma construção.
Tudo ali parecia pó e abandono.
Olhou-se num meio espelho rachado que estava pendurado num prego por uma tira de fio dental. A barba estava feita, o cabelo bem penteado e aquela imagem até parecia com os homens comuns que ele encontrou no meio do caminho.
O que era mesmo ser homem?
Fez um apanhado de lembranças juvenis: homem não chora; homem tem que impor respeito; homem tem carne fraca e pode ter quantas mulheres quiser.
Aquilo é ser homem?
Lembrou-se das vezes que chorou escondido quando ninguém ia te visitar. Lembrou que sempre escutava, com mais medo que atenção, as ordens do Tonhão nos horários do banho de sol. Lembrou-se ainda dos momentos que a carne pedia prazer e ele, farejando como um bicho, buscava o companheiro de cela.
-Eu sou homem!
Berrou tanto e tão descontroladamente, que conseguiu fragmentar ainda mas o que restava do espelho.
E o homem ficou espalhado em fragmentos pelo chão.

Um comentário:

william gomes disse...

Que bom que voltou.
E depois....????
Parabéns!

PS: MUDE A COR DO FUNDO DO BLOG PELO AMOR DOS OLHOS MEUS.