"A boca fala do que o coração está cheio."

sábado, 8 de março de 2008

Uma nova forma de morrer




Ana molhava os pés no mar e banhava a alma de sensações.
Há tempos ela já havia o deixado.
Há tempos ela tentava ser mais alegre.
Hoje ela lembrava daquele último diálogo.
"Faz dois meses que me transformei numa pessoa que já foi feliz."
E as lágrimas chegavam na pálpebra inferior, mas Ana não permitia que elas invadissem o seu território facial, tão levemente maquiado.
E o coração doia.
E o orgulho estava ferido.
E o pé doia, porque uma búzio-presente do mar- o havia ferido.
Ana sentou ali mesmo, na beirada da praia, molhando seu vestido sem cor e viu o sangue escorrer pelo pé. Ela chegou a conclusão de que a dor sempre vencia. Não podendo esvair-se pelos olhos, o corpo encontrou outra maneira para liberar a sua sensação de desprazer.
Ah...!
As palavras dele: "minha pequena".
Ana sentiu-se minúscula por estar pensando aquilo. Tão pequena, que desejou que ele a abraçasse e a protegesse.
"Não. Basta!"
Decidiu dar [a]deus a sua vida.
Foi caminhando pela praia com um só pensamento na cabeça.

Ao chegar em casa ela pôs aquele vestido velho, que só usava em ocasiões especiais. Aquele vestido vermelho e em excelente estado. Penteou-se muito bem e colocou a corrente no pescoço.
Pronto!
Estava pronta pra abandonar a vida.
Naquele exato momento o interfone tocou e ela viu o carro parado lá embaixo.
Olhou-se mais uma vez no espelho e saiu com aquele homem que há tanto tempo a convidava pra jantar.
E ela finalmente conseguiu morrer.
Despediu-se da vida, luxuosamente.
Ana foi. Com a corrente no pescoço.
Morreu sufocada com a jóia de família.

12 comentários:

Roberta Artiolli disse...

Por quantas vezes vamos morrer em belos trajes?
Há vida depois de alguma delas?
Até onde podem nos levar para que decidamos usar linda jóia de família?
Estou pagando pra "vida" me mostrar.

Lindo!

Willian disse...

Heheheh nem vi que tinha bloqueado a visualização do meu perfil...hehehehe


daqui a pouco vou ler seu texto...sempre vale a pena né!!!

Bjão...!!

Juliana Campos disse...

Sempre as mais linda-tristes estórias. ♥

Willian disse...

Mto bom n�...
o ca�ador de pipas...ambos...
filme e livro...

n�o h� d�vidas que livros sempre t�m mais detalhes...e mais emo�o...


mas o filme foi bom



opaaa aparece l� no de filme...seu acrescimo s�o bem vindos...


bjos

Unknown disse...

gostei, acho a morte um prato cheio de luxo e de sinceridade!

tem coisa mais real do qeu a morte?

Dialogue sobre!

belo um bj!

Marilyn disse...

Camiiiiila,
Deixei comentário em um post antiiiiigo... de janeiro. Coisas de Marília. Mas tudo está dito lá.
Estou meio ausente do *TM* por falta completa de tempo, mas sempre que posso, visito os amigos e agradeço as palavras.
Beijo!

Willian disse...

Morte! Eita tema difícil heim....

Por que o terno, né?
Por que o vestido???

Francieli Hess disse...

Ah, o orgulho humano, tentando sentir-se pleno e belo, até mesmo para morrer...

Clareana Arôxa disse...

Talvez se Ana tivesse olhado pra dentro e descoberto o poquinho de luz que ainda restava nela,faria da dor um apoio pra o que chamam de vida.

Volta lá sempre que quiser!!
beijo

Menina Lunar disse...

E a beleza do que podia ser grande indo embora com alguns simples detalhes...

Que texto lindo!!
Maravilhosa tua escrita.
Beijo enorme!

Unknown disse...

Hum
muito bom moça
gostei de suas palavras
vcolte sempre ok
e minha visita aqui tb jah eh garantida
sempre!
passa lah
atualizei
=D
;)

Camilinha disse...

Coragem ou covardia?

beijos daqui...